Economia Brasileira em Ouro (parte 1)

No momento que um investidor decide alocar seus recursos em determinado empreendimento, ele efetua uma análise de investimento que lhe convir e define seus objetivos de modo que possa aumentar o poder aquisitivo do seu capital, desta forma ele pretende poder adquirir mais bens com o resultado deste investimento. Os bens que este investidor pretende adquirir, via de regra, localizam-se no seu país de origem. Desta forma ao fazer a análise de investimento o investidor converte os valores da economia da qual irá aplicar o seu capital, para a sua moeda, pois assim irá analisar sobre a ótica dos seus objetivos. Da mesma forma ocorre quando um investidor global aplica em determinado investimento, geralmente a análise é efetuada sob a ótica do dólar ou, mais recentemente, do euro.
Porém quando um investidor que acredita no sistema de livre mercado decide efetuar um investimento, qual será a moeda base de sua análise? Ou seja, aquele investidor que compreende que as medidas governamentais, sejam monetárias, fiscais, cambiais e entre tantas outras, possuem apenas a intenção de atrapalhar o funcionamento da sociedade livre e principalmente, interferir na liberdade de cada indivíduo, qual será a moeda que alicerçará seus investimentos? Como resposta desta questão proponho a leitura deste artigo,  http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=830, que apresenta o único meio de troca, até então, que chegou mais próximo do conceito de moeda, o Ouro.
Analisando a economia brasileira, com o intuito de dar sustentação para que um agente de livre mercado possa efetuar seus investimentos, este estudo se propõe esmiuçar os dados dos últimos anos e entender o que realmente está ocorrendo com o cenário brasileiro. A análise dos números de uma economia baseada no ouro possibilita que possamos enxergar os números de forma mais límpida, sem as distorções geradas pelas medidas governamentais.

Preço do ouro, o valor da moeda
Um dos dados mais básicos que generaliza a economia de uma nação é o comportamento de sua moeda em relação à moeda do investidor, ao entrar neste mercado é necessário verificar o desempenho deste número, o impacto das decisões do governo em sua cotação e suas políticas cambiais.
No caso do Ouro/BRL, no decorrer dos últimos 12 anos é aparente a forte desvalorização do poder de compra do Real frente ao Ouro, como se verifica no Gráfico 1. Esta perda de força do Real deve-se a vários motivos, sendo o principal a enxurrada monetária efetuada pelo Banco Central a fim de gerar estímulos à economia. Este fenômeno não é exclusivo para o Real, ele ocorre também em outras moedas, em tempos diferentes, mas convergindo para a mesma direção em todas as moedas, reflexo da famosa “guerra cambial” onde governos tentam ao máximo reduzir o poder de compra de sua moeda para obter “vantagens” comparativas no comercio mundial, aparentando que os produtos exportados em sua moeda são mais baratos que os demais.


A forma deste movimento, conectado aos demais indicadores que serão analisados a seguir, evidencia que os números da economia brasileira possuem outra interpretação, bem diferente das observações que estamos acostumados a ver nos noticiários, ficando toda a base de leitura distorcida frente às medidas adotadas pelos administradores das moedas emitidas pelos bancos centrais ao redor do mundo.

Progresso dos anos 2000
O governo brasileiro tem alardeado aos quatro cantos que o país esteve pujante e sólido nesta última década e tem mantido esta situação, sendo hoje um país preparado para o futuro e com perspectivas que há 13 anos não poderíamos imaginar.
Ao começar pela análise do PIB, o país passou por uma forte experiência de ganhos neste período, principalmente na fase entre 2004 e 2008, como é possível verificar no Gráfico 2, com uma média de 4,8% de crescimento anual do PIB, muito acima dos 2,2% do pós-implantação do Real (de 1995 a 2003) e dos 2,7% pós-crise financeira (de 2009 a 2012).


Ao comparar o período de pujança brasileiro com o mundial e os períodos anterior e posterior já mencionados, chega-se no Gráfico 3 onde é possível verificar que todo esse vigor nada mais foi do que superar, sem muita margem, a média, voltando a ficar abaixo após este período.


Porém este período de pujança não deve ser ignorado, algo ocorreu neste momento que fez com o Brasil pudesse se tornar rentável.
Vendo o país como um empreendimento, como é visto por investidores, quem aplicou nele provavelmente obteve retorno e, além disso, estes números fizeram com que o país se tornasse atrativos para novos investimentos, pois ele estava sendo produtivo, rentável, lucrativo, palavras que atraem investidores.
Neste mesmo período, este empreendimento chamado Brasil, além de ter lucro, teve Fluxo de Caixa Operacional Positivo, para países chamados de Transações Correntes do Balanço de Pagamentos. Peter Drucker, considerado o pai da administração moderna, defendia que uma empresa pode operar alguns períodos consecutivos apresentando prejuízo sem passar por grandes problemas, desde que possua fluxo de caixa positivo, porém o contrário não é observado.
Parte deste fluxo de caixa provém da Balança Comercial, Gráfico 4, que de mar/02 a out/08 fez com que entrasse no país um montante de capital sem precedentes na história recente do país, sendo boa parte deste fluxo reflexo dos preços praticados no mercado internacional dos principais produtos da matriz de exportações do país, em sua grande maioria matéria-prima.


A outra grande parte deste fluxo de caixa operacional chama-se Serviços e Rendas, que representam o resultado (recebimento/pagamento) de despesas de serviços como viagens, cartão de crédito e serviços profissionais e o envio ou recebimento de rendas como lucros, dividendos e juros. No Brasil este número sempre foi negativo. Nota-se que o montante referente a Serviços, mesmo com oscilações, se mantêm em linha enquanto os valores de Rendas reduziram desde o início da década passada, diminuindo, principalmente, o envio de capital ao exterior a título de Juros Pagos, reflexo da queda da taxa de juros nacional. Outro ponto é o robusto envio de capital para demais remuneração de capital (lucros e dividendos) no período de 2002 a 2008, tema que será tratado logo à frente. Todavia no total do valor de Serviços e Rendas houve uma redução significativa de 2000 para cá.


Esta combinação de Balança Comercial positiva com a redução dos pagamentos de Rendas ocasionou no início de 2003 um resultado não inédito, mas raro, na história do país, saldo positivo nas Transações Correntes (Gráfico 6) e que, aos olhos da época, sustentavam uma firme tendência de manutenção do número.


Ao constatar que no período pós 2002 ocorreu uma grande melhoria nos números do país, pressupõe-se que em algum momento anterior tenha ocorrido um aumento significativo dos investimentos, pois como é notório, todo retorno advém de um investimento prévio. Entretanto, examinando o período anterior, não é possível identificar qualquer momento onde possa ter ocorrido este investimento, visto que após a implantação do Real até 2003 a taxa de investimento, Gráfico7, despencou de 18% para 15%, um número abaixo dos 20% que se estima ser necessários para manter um crescimento razoável do PIB.


Então qual a procedência desta rentabilidade que iniciou em 2002? A origem deste número veio de um maciço aporte em investimento direto efetuado pelos estrangeiros, Gráfico 8, no período de 1998 a 2001, atraídos pela abertura de mercado ocorrida na primeira metade da década de 90 e a estabilidade do Real confirmada na segunda metade desta mesma década, que juntas proporcionavam expectativas de ganhos futuros.


Esta entrada de capital estrangeiro fez com que o país pudesse experimentar um período de resultado positivo e, em contra partida, seguindo as regras de livre mercado, foi muito bem remunerado, Gráfico 5. Além de ser bem remunerado, este capital deixou um rastro de prosperidade para o restante da sociedade, aumentando o a riqueza da população em geral. Este precioso momento de fartura foi uma ótima ocasião para que a população pudesse acumular o capital necessário para manter um alto nível de renda e enfrentar tempos difíceis, entretanto, como veremos a frente, esta oportunidade foi perdida.

Por Julio dos Santos

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